quinta-feira, 24 de maio de 2007

(Im)parcialmente verdadeiro


Everton Maciel



A busca filosófica pela verdade é traumatizante. O ente que se dedica à filosofia deve ter em mente que toda e qualquer conclusão é, em grande parte, um ponto de vista humano e, como tal, está diretamente ligado às emoções, paixões e sentimentos particulares. Verdades absolutas e imutáveis não estão a nosso alcance. Temos um leve conceito do que pode vir a ser a verdade porque conhecemos a mentira. Assim é com vários conceitos abstratos: temos idéia do que é paz, porque conhecemos o conflito. Temos idéia do que é a imparcialidade, porque vemos jornalistas parciais todos os dias.

Definitivamente, a imparcialidade não está ao alcance de nossas mãos. É impossível que sejamos imparciais, totalmente isentos. Se você conhecer alguém imparcial, avise-me. É impossível uma imparcialidade perene, completa. Seria inacreditável um texto, uma matéria ou qualquer tipo de publicação impressa ou eletrônica, sem imaginar uma dose de parcialidade por parte daquele que transmite a informação. No momento que se opta por uma expressão e não por outra; quando se dá um timbre e não outro; quando se mostra uma feição e não outra; somos parciais de alguma forma.

Pensar diferente seria o mesmo que imaginar um transmissor de informações extraterreno, longe da realidade sensível do mundo. Algo totalmente tecnificado, feito por máquinas que não foram produzidas nesse planeta. Porque, se aqui fossem feitas, até mesmo elas passariam à condição de parcialidade.

Neste sentido, está reservado, para os que se propõem ao jornalismo, uma frustração muito semelhante a dos filósofos: uma busca frustrada atrás de algo que acreditamos existir, mas está tão distante que parece de outro planeta. Cabe-nos a tentativa frustrada de nos esforçarmos para uma aproximação da dita imparcialidade. Não sendo assim, prestamos um desserviço aos receptores das informações.

Uma comunicação sem embasamento em pontos de vista e opiniões particulares não pode ser suscitada. Afinal, temos aí, os pilares de qualquer veículo democrático, mas, nossa sugestão vai além: defender a democracia, apoiando-se nessa visão, quase neo-platônica, de uma busca constante de um objeto que não existe, a imparcialidade.

A questão da verdade é idêntica: vária vez, de forma tácita e, até mesmo, verbalizada me deparou com colegas, auto-intitulados alicerces da ética e da imparcialidade, desferindo os seguintes atentados verbais: “a verdade é a seguinte”, “a bem da verdade”. Covenhamos, sobra pouco espaço para tentarmos fazer a verdade circular entre tais prifissionais da imprensa.

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