quarta-feira, 2 de maio de 2007

Um par de mochilas apaixonadas e o sul da América

Everton Maciel

Montevidéu, Sacramento e Buenos Aires são alguns dos destinos mais comuns dos brasileiros que decidem viajar de carro, moto ou em excursões pelo sul da América Latina. Só que o casal dessa história resolveu fazer diferente: o santa-rosense Carlos Gustavo Knebel e sua futura esposa Inajara Trentin partiram para as férias de rodoviária em rodoviária, de barco e pedindo carona cordilheira à cima. Os noivos, que atualmente residem em Santa Cruz do Sul, partiram para a viagem na semana passada e pretendem completar o trajeto em 30 dias. Carlos conta que se preparou três anos para o trajeto:

"Juntei os mapas, fiz os melhores orçamentos, participei de fóruns sobre o trajeto na internet, estudei cada rodoviária, procurei contatos com todos os albergues possíveis e não deixei faltar nada nas mochilas. Se alguma coisa acontecer de errada será culpa da minha própria burrice" – conta Carlos, que faz questão de parar em uma lan house para mandar sinais de vida para os amigos. Além de se gabar da coragem, ele reclama:

"Sempre procurei amigos para a turnê dos meus sonhos. Até arrumava interessados, mas, na última hora, eles davam para trás. Agora vou levar minha noiva... ela não pode fugir de mim assim tão fácil. E, se resolver fugir, vai pra onde? Sairá correndo pelo pampa uruguaio, chamando pela mãe?", ironiza o técnico em mecatrônica que está apaixonado por Inajara há dois anos e meio.

Na semana passada, ambos partiram de Porto Alegre. Já visitaram a capital do Uruguai e da Argentina e se preparam para a parte mais isolada e solitária do trajeto, o caminho à província de Mendoza, onde começará o caminho pelas Cordilheiras dos Andes até o Deserto de Atacama:

"Gostaria de ir à casa de Pablo Neruda. É mais que um sonho: é uma obrigação. Mas a visita a Santiago vai ter que esperar. Pretendo ir ano que vem. Preciso morrer com esse dever cumprido" – confessa Knebel, que carrega o livro "Cem Sonetos de Amor e Uma Canção Desesperada", do poeta chileno, debaixo do braço por onde quer que vá.

Inicialmente a viagem estava prevista para acontecer com uma moto Yamaha Virago. O veículo de 250 cilindradas foi comprado há três anos e meio pensando na aventura:

"Como os amigos deram para trás, achei melhor deixar a moto para mais tarde. Ainda a coloco na estrada... mas, por enquanto, é melhor deixar o sogra dormir tranqüila. O jeito é levar a Inajara de ônibus". – confessa o "homem responsável" que pretende se casar em breve.
Já a jovem, de 25 anos, que dificilmente é flagrada sem um sorriso na boca, se mostra confiante com o desfecho do passeio:

"Uma vez uma amiga me perguntou se o Carlos tinha os parafusos no lugar... na hora, preferi esperar para responder, mas agora sei que sim. Vamos aproveitar os momentos e vai dar tudo certo" – é o que espera a moça.

Se eles sobreviverem, devem retornar ao Brasil pela fronteira de Alba Pose/Porto Mauá. Uma parada estratégica está prevista para recarregar as baterias na terra natal de Carlos. Depois de rever os parentes e amigos, novos planos serão traçados para a próxima viagem.

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