sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Pommer e a sua campanha

Everton Maciel

Conheci uma figura emoldurável, nos primeiros semestres da faculdade de Filosofia da Unijuí. Arnildo Pommer é o professor responsável pela cadeira de estética com uns 50 anos (ou mais) e com uma curiosidade muito peculiar: a estranha campanha que escolheu para empregar durante sua trajetória intelectual.

Temos campanhas de todos os tipos e em todos os lugares, mas a de Pommer nunca foi vista antes. É uma campanha meio absurda e, especialmente, sem sentido para 99% da população brasileira adepta do BBB9. Pommer não quer diminuir os problemas do aquecimento global, dar condições de trabalho aos professores do ensino público ou salvar as borboletas do Afeganistão. Pommer se dedica a uma causa muitíssimamente mais elevada. Ele propaga por onde passa um bordão estranho para o terceiro mundo: “uma escrivaninha para cada criança”.

Eu sei que parece um absurdo, mas é isso. Pommer quer que cada criança brasileira tenha, simplesmente, uma escrivaninha. O programa do Governo Federal chamado, simpaticamente, de “Computador para Todos” passa vergonha diante da grandiosidade da campanha de Arnildo Pommer.

Esse assunto só me ocorreu porque, ontem à tarde, observei um debate na rádio sobre o péssimo hábito de leitura dos brasileiros. O índice é um dos piores do mundo: cada brasileiro lê 1,8 livro por ano. Trata-se de um fiasco que coloca nosso país no final do fim do ranking mundial.

Como o leitor do Blog do Capeta é altamente dotado de adjetivos intelectuais e culturais, abster-me-ei de explicar a relação entre as escrivaninhas, à ausência de espaços de leitura nas residências e a média de livros que um brasileiro lê por ano. Prefiro terminar com uma anedota do Pommer. É bem mais divertido.

Certa vez, conta o professor, conhecendo uma exposição dedicada à arquitetura interna de residências, atreveu-se a questionar um dos expositores sobre a ausência de espaços para leitura nas modernas residências conhecidas como espaços “cleans”. Clean significa “limpo”, sem a poluição de coisas inúteis como, por exemplo, livros. Por fim, depois de muita insistência, a resposta dos arquitetos é que o melhor lugar para se instalar uma biblioteca na residência do século 21 fica, mesmo, debaixo de alguma escada da casa.

Pois bem, na mesma exposição, Pommer observou que as residências eram dotadas, cada vez mais, com banheiros modernos, aconchegantes e que ocupavam cada vez mais espaço nas habitações. Conclusão: brasileiro nasceu para cagar, não para ler.

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