segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Os suicidas da Região Noroeste

Região Noroeste: incidências de suicídios assustam a comunidade. Campina das Missões registra o maior número de casos. Especialistas atribuem fenômeno à cultura da região

Everton Maciel

O Blog do Capeta ampliou uma interrogação muito antiga, e já expeculada nesse serviço de informções também: é difícil encontrar na Região Noroeste do Estado alguém que não tenha perdido um parente próximo ou um amigo suicida. Os números apresentados são muito mais preocupantes do que se pode imaginar: apenas em Campina das Missões, pequeno município de 6,2 mil habitantes, foram registrados 27 suicídios entre os anos de 2004 e 2007.

Os indicadores nacionais aceleraram nos últimos anos: em 1991, o Brasil registrou 3,5% casos de suicídios entre sua população. Em 2001, esse indicador chegou a 4,4%. Mas os números são bem mais assustadores na Região Noroeste do Estado. A variação no mesmo período foi de 11,4% para 17%.

Um recente estudo realizado em Campina das Missões coloca a cidade como a segunda em ocorrências de suicídios nos últimos anos no Estado, ficando atrás apenas de Venâncio Aires, na Região das Hortências. Mesmo assim, a região de mais incidência do fenômeno é a Noroeste. Isso porque, segundo a professora de sociologia da Unijuí e doutoranda da Ufrgs Maria Alice Ames, outros municípios também despontam: Alecrim e Santo Cristo são cidades de destaque nessa lista negra.

Outro detalhe do levantamento realizado pela acadêmica egressa de Serviço Social da Unijuí Ieda Schmatz para seu trabalho de conclusão de curso mostra que Campina das Missões desponta na média de idade das pessoas que tiram a própria vida. Mais de 30% dos suicidas têm entre 40 e 49 anos. Esse índice contraria a média nacional: no Brasil, o suicídio afeta mais as crianças e os jovens entre 10 e 19 anos (30%). A alta média de idade pode ser explicada através da cultura da Região, voltada aos valores morais muito fortes, ao trabalho e a idéia de acúmulo de bens materiais. A autocobrança que as pessoas se impõem é apontada como a principal causa dos suicídios: “Os valores morais rígidos têm grande influência nesse tipo de violência. Os costumes de trabalho, vindos da cultura européia, acabam fazendo com que as pessoas se cobrem demais e assumam compromisso de sucesso que não são tão observáveis em outras regiões do país”, afirma Maria Alice.

O estudo aponta que a maior incidências de casos envolvendo o suicídio acontecem nos meses de janeiro (16%) e abril (15%). “O período de balanço do ano novo pode justificar o mês de janeiro na ponta das incidências. A ociosidade do final da safra pode fazer com que as pessoas acabem pensando em bobagens durante abril”, justifica o psiquiatra Rainer Herman.

Maior índice está entre agricultores e casados
Em Campina das Missões redes de apoio foram criadas pela comunidade para tratar dos suicidas potenciais - aqueles que tentaram se matar, mas não conseguiram. O poder público se uniu à igreja e às comunidades para tentar tratar dos casos: “Estamos permanentemente na casa pastoral à disposição da comunidade e de todos aqueles que tiverem algum tipo de problema e queiram abrir seu coração. Mas as pessoas se julgam auto-suficientes e preferem viver seu egoísmo”, prega o Pe. Jacob Rademann enquanto vela o corpo de mais um campinense em São Paulo das Missões, distante 15 km de Campina das Missões. O homem que estava sendo velado é justamente o perfil do suicida campinense: 40 anos, agricultor, casado e com dois filhos (4 e 10 anos). Segundo o estudo, 67% dos suicidas são homens e 63% são casados.

O agricultor do velório realizado no dia 21 de janeiro tirou a própria vida depois de discutir com a esposa por telefone. Com uma espingarda calibre 36, ele disparou um tiro contra a própria boca. No entanto, 89% dos casos registrados em Campinas das Missões acontece através de enforcamento: “É um detalhe cultural. Isso é mais freqüente entre os descendentes de alemães. Os italianos utilizam mais as armas de fogo”, especula o psiquiatra Rainer. Campina das Missões foi colonizada justamente por descendentes de alemães e russos. Apenas 11% dos suicidas da cidade utilizam armas de fogo.

Como a maioria dos casos acontece entre agricultores (77%), boatos de que o contato com agrotóxicos poderia influenciar fisicamente as pessoas e torná-las mais propensas à depressão são comuns entre a comunidade: “É muito comum essa confusão. O que se leva em consideração são os problemas de saúde causados pelo manuseio inadequado dos agrotóxicos. Mas o suicídio está mais relacionado às questões financeiras e afetivas dos agricultores que, geralmente, não procuram ajuda para tratar seus problemas”, esclarece o engenheiro agrônomo Jairton Desordi. Apesar das pesquisas recentes nessa área terem avançado, não há uma comprovação científica sobre relação entre os produtos e os suicídios.


(A Direção do Capeta lembra: as publicações deste domínio eletrônico são propriedades intelectuais do Blog do Capeta. As redações impressas ou eletrônicas que copiarem esse material sem autorização, fazendo ou não referência à fonte e ao autor, estão sujeitas às penalidades legais)

6 comentários:

Gerson Rodrigues disse...

Interessante a matéria.
Existe um pacto entre os veículos de não publicar nada em relação aos suicídios que ocorrem... dizem que influencia os mais afoitos... sei não!
Mas quero afirmar que o tema merece ser ampliado... quem sabe o Resistência poderia discutí-lo?
Longa vida ao Capeta! (e não é caixa de leite!...hehehe).
Abraço... é por aí!

The Dark disse...

meu nome é adriana e com certeza neste momento estou certa de que
para mim o melhor é o suícidio
poís não vejo projetos na minha vida
meus filhos estão criados, meu marido nao liga para mim como mulher não tenho perspectiva de futuro acabei de
sair de uma clinica pisquiatra e só sinto vontade de morrer, fui da igreja católica muito tempo mas não sinto vontade de ir mais, simplesmente minha vida parou.

Sem Papel e Tinta disse...

Querida Adriada, por favor, faça um gentileza a você mesma e se mantenha calma. Viver pode não parecer uma alternativa razoável em determinados momentos, mas sua contribuição para com a realidade, acredite, é muito importante. Realmente, a religião não é uma alternativa interessante nesses casos. O melhor mesmo é observar as coisas que gostamos de fazer e potencializá-las ao máximo. Não ligue para seu marido ou seus filhos. Você é importante. Seria bom que você pudesse gastar seu tempo com coisas pequenas. Ler um livro, ver um bom filme ou mesmo sentar na grama da praça podem ser coisas gostosas. Note que "projetos" não importam quando se vive de um jeito livre e interessante. Não é preciso ninguém ao nosso lado para fazer nossa vida melhor. Somos, todos, auto-suficientes. Fiques bem e não deixe de participar do nosso blog, sempre que se sentir a vontade. Se precisar de companhia, pegue nosso MSN no lado direito do blog. Ficas bem...

Anônimo disse...

esqueça tudo !!! entre no seu quarto ajoelhe e peça a DEUS para te dar uma resposta, depois se quiser comentar alguma coisa é ´so falar!!!

Anônimo disse...

meu amigo dono do blo!! vc também precisa fazer isso que eu falei , vai te ajudar a dar melhores conselhos!!!

Anônimo disse...

meu amigo dono do blog , seus comentários até que poderiam ajudar, mas , contra as forças do mau, são insuficientes, vc esta cavando sua vaga no inferno, se é que não é de propósito!!!!