quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Diploma de jornalismo? Vão ler Fernão Capelo Gaivota e parem de encher o nosso saco. E um recado para Tarso Genro

Reinaldo Azevedo, 20 de Julho 20 de 2006

Ai, ai, o governo ainda está dividido sobre o que fazer com o projeto que amplia de 11 para 23 as atividades profissionais que seriam privativas de jornalistas com “deproma”. A proposta original é do deputado Pastor Amarildo, do valente PSC do Tocantins. A proposta que obrigaria Tostão a voltar a jogar bola tem o patrocínio da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) — que é, na prática, um braço do PT. Amarildo está na lista dos acusados de sanguessuguismo.

Lula não estaria querendo comprar briga, informam os governistas, nem com os patrões da comunicação nem com os trabalhadores. A falácia já está nessa oposição. A lei, como é hoje, não é nem prejudicial nem benéfica aos patrões. Ou, para ser mais preciso: é prejudicial ao jornalismo a exigência de diploma, seja lá para que atividade for. E os “trabalhadores”, exceção feita à Fenaj (que, enquanto tal, não trabalha), são contra. Porra! Para presidir um país, o sujeito não precisa de certificado — e é bom que assim seja —, mas tem de ter um para escrever um parágrafo?

Ainda que Lula ameace a nossa segurança como nação — e eu acho que ameaça —, o malefício de excluí-lo do jogo político por falta de formação intelectual seria maior do que o de incluí-lo. Um diploma para engenheiro representa alguma garantia — não toda — de que o edifício não desabe ou de que a ponte não caia sobre a nossa cabeça. Um diploma para médico representa alguma garantia, mas não a certeza, de que ele não vai nos arrancar o estômago fazendo uma cirurgia de catarata.

Há profissões que põem a segurança dos indivíduos e da sociedade em risco. A principal ameaça contra os leitores, no jornalismo, é a burrice, aquela sistematicamente ensinada nas escolas que oferecem formação específica. Sim, eu tenho “deproma”. Sei o que estou falando. Gostem ou não do que escrevo, não foi lá que aprendi. Os caras falharam até na doutrinação.

Tão logo se saiba o mal que acomete o vice-presidente José Alencar, quem poderá fornecer mais luzes ao leitor: eu, que nada entendo de medicina, ou um médico que saiba escrever? O grande flagelo do jornalismo na era do diploma, com todo respeito, é a ignorância. A culpa não é do dito-cujo. Há jornalistas idiotas com e sem canudo. Logo, não é ele que faz a diferença. Argumentar que se está protegendo a profissão é uma sandice. Protegendo do quê?

Um médico que queira ser jornalista estará certamente perdendo dinheiro. O mesmo vale para advogados, arquitetos, dentistas... A Fenaj não quer é abrir mão do aparelho que domina, isto sim. Um recado ao ministro Tarso Genro, que sei que me lê, e à ministra Dilma Roussef (ela eu não sei): a única chance de Lula perder algum voto é aprovando essa estrovenga. Deve haver uma única exigência para o exercício do jornalismo: o sujeito ser alfabetizado. Do resto, a Lei de Imprensa e o Código Penal dão conta.

EM TEMPO: um novo cretinismo está na praça. Seria útil, dizem, que os professores de jornalismo fossem, obrigatoriamente, jornalistas. Outra idiotice caso se mantenha o curso — que pode ser útil (mas não como é hoje). Uma faculdade de Medicina teria coragem de dispensar um grande especialista em bioquímica porque ele não é médico? Um oftalmologista deveria ser proibido de ter aula com um grande físico? Um arquiteto só poderia ter aula de história da arte ministrada por outro arquiteto?

O que é “ser” jornalista? É atuar ativamente numa redação ou ter o diploma? Um jornalista da ativa que fosse também professor e pedisse demissão ou fosse demitido de um jornal ou revista deveria ser dispensado pela faculdade também? Quer dizer que, em vez de se eliminar, vai-se ampliar o cartório. Por que essa gente não enfia a cara num livro - nem que seja Fernão Capelo Gaivota — em vez de encher o nosso saco?

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